A instrução tem por fim fornecer ao homem o conhecimento e
uso dos objetos necessários para sua vida profissional.
A educação tem por fim despertar e desenvolver no homem os
valores da natureza humana; porquanto a natureza humana existe em cada indivíduo
apenas em forma potencial, embrionária.
Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita que o ego é
o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o melhor amigo do ego. Diz ainda que o ego
é um péssimo senhor da nossa vida, mas um ótimo servidor.
O homem que vive apenas na consciência do seu ego externo
não pode deixar de ser um egoísta que hostiliza o Eu interno. Mas quando o Eu
desperta devidamente e se põe na vanguarda da vida, aparece o homem harmonioso,
que faz o grande tratado de paz com seu ego servidor, sob os auspícios do Eu
dominador.
O fim da educação é crear o homem integral, o ego instruído
integrado no Eu educado.
Tem-se dito que abrir uma escola é fechar uma cadeia.
Infelizmente, isto não é verdade. Os grandes criminosos e malfeitores da
humanidade não foram, geralmente, analfabetos; muitos deles eram homens de
elevada erudição. Se as nossas escolas fossem centros de educação, poderíamos
abrir escolas para fechar cadeias. Mas, no mundo inteiro, as escolas dão apenas
instrução, que é do ego. E onde há um ego instruído sem um Eu educado, aí há um
malfeitor potencial. Os egos pouco instruídos pouco mal podem fazer, os egos
muito instruídos podem fazer muito mal, se lhes faltar a devida educação do Eu,
se a consciência não contrabalançar a ciência.
O homem da ciência, diz Einstein, descobre os fatos da
natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo.
Mas, continua ele, do mundo dos fatos não conduz nenhum
caminho para o mundo dos valores. Com outras palavras: do simples fato de o homem
ser instruído, não se segue que tenha valor, que seja bom. O ser-bom não é um
efeito do ser-instruído. Os valores diz Einstein, vêm de outra região.
Os valores existem porque são a própria alma ou essência do
Universo – e o homem deve captar em si esses valores, porque somente a captação
de valores pela consciência torna o homem valioso e bom.
Pela ciência o homem descobre os fatos da natureza material.
Pela consciência o homem capta os valores do mundo
imaterial.
Ser amigo da verdade, da justiça, do amor, da honestidade,
da fraternidade etc, é crear valores pela consciência, e isto torna o homem
bom.
Ser bom quer dizer estabelecer e manter harmonia entre a
consciência individual e a Consciência Universal, que alguns chamam a alma do
Universo, outros denominam Deus.
Uma teoria moderna diz que os valores não existem
objetivamente, mas são uma construção mental subjetiva do homem; dizem eles que
o homem não capta, mas fabrica valores.
Se o homem pudesse fazer os valores, também os
poderia desfazer a bel-prazer, e neste caso, não existiria nenhuma norma
objetivamente real para os valores, e cada homem poderia fabricar outra espécie
de valores.
Por vezes, a obediência aos valores é difícil e dolorosa;
mas a consciência, que é o eco dos valores, exige imperiosamente que o homem
obedeça a essa norma imutável.
Einstein diz que a ciência é maravilhosa, mas ela não pode
valorizar a vida do homem; o homem 100% científico pode ser 0% bom; 100% de
instrução não é necessariamente 100% de educação, precisamente porque os
valores vêm de outra região.
Se compararmos os fatos da ciência com uma linha horizontal,
e os valores da consciência com uma linha vertical, podemos acumular milhares e
milhões de linhas horizontais, mas nunca teremos uma linha vertical, porque os
valores estão numa outra outra dimensão.
O homem de ciência é um descobridor de fatos – o homem de
consciência é um creador de valores.
A humanidade não viverá em paz, e o homem nunca será feliz
enquanto não for um creador de valores dentro de si mesmo.
Em resumo descobrir fatos é instrução – crear valores é
educação.
Instrução e educação são como duas linhas paralelas que não
convergem (se favorecem), nem divergem (se desfavorecem).
A instrução está numa dimensão, e a educação está em outra
dimensão. As sua finalidades são totalmente diversas.
O ideal seria que um homem tivesse 100% de instrução e 100%
de educação; que fosse mestre em ciência e mestre na consciência.
Até hoje, os poderes públicos de todos os países insistem
muito em instrução e pouco em educação. Talvez tenham razão, porque a educação
não é tarefa do Estado ou de alguma organização social, mas sim do homem
individual. O que geralmente se chama educação moral e cívica não tem por
finalidade tornar o homem bom e consciencioso, mas sim torná-lo adaptável ao
convívio social com seus semelhantes. O motivo dessa educação não é de
consciência, mas apenas de conveniência.
Por esta razão, a educação moral e cívica não poderá jamais
estabelecer uma fraternidade geral e duradoura entre os homens e garantir a paz
mundial.
Somente um homem educado pela consciência dos valores é que
pode servir de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a
ciência se integrar totalmente na consciência, então o mundo terá paz e ordem
universal.
Ser educado é realizar explicitamente o que já é
implicitamente.
INSTRUÇÃO E
EDUCAÇÃO
Nesse texto
Rohden faz uma clara distinção entre educação e instrução, e tal como
mencionado no texto anterior, a verdadeira educação só pode ser aprendida por
si só, enquanto que a mera instrução pode ser passada por qualquer professor,
pois é feita apenas por conveniência. A verdadeira educação é a que vem de
dentro, que desperta todas as potencialidades do aluno e do Eu integrador do de
cada ser humano.
Nesse sentido,
a proposta pedagógica de uma verdadeira autoeducação parece ter semelhanças com
a proposta pedagógica de Felix Pacheco, uma vez que a instituição tem a
humildade de admitir esse óbvio, de que é impossível ensinar algo a alguém por
conveniência, por mera instrução, repetição e obrigação.
Seu caráter de
inspirar a curiosidade natural dos seres humanos se assemelha muito com o que
foi dito no texto anterior sobre “indiretamente despertar as potencialidades
latentes do ser humano” e após essa etapa os alunos se engajam em projetos e
aprendem a serem autônomos, o que por sua vez, se assemelha muito com o que
Rohden tanto enfatiza durante todo o livro, sobre a verdadeira autoeducação,
que vem de dentro, de conhecer toda a natureza humana, do universo e do ser
humano uma vez que um é reflexo de outro.
Está será uma
possível nova escola para os seres humanos desse novo milênio, a verdadeira
escola que ensinará a verdadeira educação.