segunda-feira, 10 de junho de 2013

INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO - Huberto Rohden - Educação do Homem Integral


A instrução tem por fim fornecer ao homem o conhecimento e uso dos objetos necessários para sua vida profissional.
A educação tem por fim despertar e desenvolver no homem os valores da natureza humana; porquanto a natureza humana existe em cada indivíduo apenas em forma potencial, embrionária.
Diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o melhor amigo do ego. Diz ainda que o ego é um péssimo senhor da nossa vida, mas um ótimo servidor.
O homem que vive apenas na consciência do seu ego externo não pode deixar de ser um egoísta que hostiliza o Eu interno. Mas quando o Eu desperta devidamente e se põe na vanguarda da vida, aparece o homem harmonioso, que faz o grande tratado de paz com seu ego servidor, sob os auspícios do Eu dominador.
O fim da educação é crear o homem integral, o ego instruído integrado no Eu educado.
Tem-se dito que abrir uma escola é fechar uma cadeia. Infelizmente, isto não é verdade. Os grandes criminosos e malfeitores da humanidade não foram, geralmente, analfabetos; muitos deles eram homens de elevada erudição. Se as nossas escolas fossem centros de educação, poderíamos abrir escolas para fechar cadeias. Mas, no mundo inteiro, as escolas dão apenas instrução, que é do ego. E onde há um ego instruído sem um Eu educado, aí há um malfeitor potencial. Os egos pouco instruídos pouco mal podem fazer, os egos muito instruídos podem fazer muito mal, se lhes faltar a devida educação do Eu, se a consciência não contrabalançar a ciência.
O homem da ciência, diz Einstein, descobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo.
Mas, continua ele, do mundo dos fatos não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores. Com outras palavras: do simples fato de o homem ser instruído, não se segue que tenha valor, que seja bom. O ser-bom não é um efeito do ser-instruído. Os valores diz Einstein, vêm de outra região.
Os valores existem porque são a própria alma ou essência do Universo – e o homem deve captar em si esses valores, porque somente a captação de valores pela consciência torna o homem valioso e bom.
Pela ciência o homem descobre os fatos da natureza material.
Pela consciência o homem capta os valores do mundo imaterial.
Ser amigo da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade etc, é crear valores pela consciência, e isto torna o homem bom.
Ser bom quer dizer estabelecer e manter harmonia entre a consciência individual e a Consciência Universal, que alguns chamam a alma do Universo, outros denominam Deus.
Uma teoria moderna diz que os valores não existem objetivamente, mas são uma construção mental subjetiva do homem; dizem eles que o homem não capta, mas fabrica valores.
Se o homem pudesse fazer os valores, também os poderia desfazer a bel-prazer, e neste caso, não existiria nenhuma norma objetivamente real para os valores, e cada homem poderia fabricar outra espécie de valores.
Por vezes, a obediência aos valores é difícil e dolorosa; mas a consciência, que é o eco dos valores, exige imperiosamente que o homem obedeça a essa norma imutável.
Einstein diz que a ciência é maravilhosa, mas ela não pode valorizar a vida do homem; o homem 100% científico pode ser 0% bom; 100% de instrução não é necessariamente 100% de educação, precisamente porque os valores vêm de outra região.
Se compararmos os fatos da ciência com uma linha horizontal, e os valores da consciência com uma linha vertical, podemos acumular milhares e milhões de linhas horizontais, mas nunca teremos uma linha vertical, porque os valores estão numa outra outra dimensão.
O homem de ciência é um descobridor de fatos – o homem de consciência é um creador de valores.
A humanidade não viverá em paz, e o homem nunca será feliz enquanto não for um creador de valores dentro de si mesmo.
Em resumo descobrir fatos é instrução – crear valores é educação.
Instrução e educação são como duas linhas paralelas que não convergem (se favorecem), nem divergem (se desfavorecem).
A instrução está numa dimensão, e a educação está em outra dimensão. As sua finalidades são totalmente diversas.
O ideal seria que um homem tivesse 100% de instrução e 100% de educação; que fosse mestre em ciência e mestre na consciência.
Até hoje, os poderes públicos de todos os países insistem muito em instrução e pouco em educação. Talvez tenham razão, porque a educação não é tarefa do Estado ou de alguma organização social, mas sim do homem individual. O que geralmente se chama educação moral e cívica não tem por finalidade tornar o homem bom e consciencioso, mas sim torná-lo adaptável ao convívio social com seus semelhantes. O motivo dessa educação não é de consciência, mas apenas de conveniência.
Por esta razão, a educação moral e cívica não poderá jamais estabelecer uma fraternidade geral e duradoura entre os homens e garantir a paz mundial.
Somente um homem educado pela consciência dos valores é que pode servir de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a ciência se integrar totalmente na consciência, então o mundo terá paz e ordem universal.
Ser educado é realizar explicitamente o que já é implicitamente.

INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO

Nesse texto Rohden faz uma clara distinção entre educação e instrução, e tal como mencionado no texto anterior, a verdadeira educação só pode ser aprendida por si só, enquanto que a mera instrução pode ser passada por qualquer professor, pois é feita apenas por conveniência. A verdadeira educação é a que vem de dentro, que desperta todas as potencialidades do aluno e do Eu integrador do de cada ser humano.
Nesse sentido, a proposta pedagógica de uma verdadeira autoeducação parece ter semelhanças com a proposta pedagógica de Felix Pacheco, uma vez que a instituição tem a humildade de admitir esse óbvio, de que é impossível ensinar algo a alguém por conveniência, por mera instrução, repetição e obrigação.
Seu caráter de inspirar a curiosidade natural dos seres humanos se assemelha muito com o que foi dito no texto anterior sobre “indiretamente despertar as potencialidades latentes do ser humano” e após essa etapa os alunos se engajam em projetos e aprendem a serem autônomos, o que por sua vez, se assemelha muito com o que Rohden tanto enfatiza durante todo o livro, sobre a verdadeira autoeducação, que vem de dentro, de conhecer toda a natureza humana, do universo e do ser humano uma vez que um é reflexo de outro.

Está será uma possível nova escola para os seres humanos desse novo milênio, a verdadeira escola que ensinará a verdadeira educação.

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