O PROBLEMA PARADOXAL DA EDUCAÇÃO (Huberto Rohden, do livro Educação do Homem Integral)
Se possível fosse uma alo-educação, como os nossos programas
parecem supor, não haveria problema. Mas, como dizíamos, a única educação
verdadeira é uma auto-educação, que é totalmente individual.
Ninguém pode educar alguém.
Alguém só pode educar-se a si mesmo.
A verdadeira educação é essencialmente intransitiva, ou
reflexiva, subjetiva. Nem o próprio Cristo conseguiu alo-educar seus
discípulos; do contrário não teria Judas traído o Mestre. E mesmo os restantes
discípulos não estavam convertidos no dia da ascensão, depois de três anos de
convivência com o melhor dos educadores. Eles, e outros, se auto-educaram na
gloriosa manhã do Pentecostes, quando o espírito da verdade, que neles
despertou, os transformou total e definitivamente. O que o Mestre fez, e que
todo mestre pode e deve fazer, foi mostrar o caminho no qual o discípulo se
pode auto-educar. Mas nenhum mestre tem a certeza de que o seu discípulo siga
esse caminho. O livre-arbítrio do homem é uma fortaleza inexpugnável, cujas
portas não abrem para fora, mas só para dentro.
Não é verdade que o meio bom faça o homem necessariamente
bom, embora lhe facilite ser bom.
E, praticamente, é apenas isto que o educador pode fazer
para seu educando. De maneira que o educador se limita a mostrar o caminho
certo ao educando.
Aqui, porém, entra em função um fator misterioso e
dificilmente explicável: o ser central do educador vitaliza o seu dizer
periférico. E esse ser central coincide com a auto-educação e a
auto-realização do educador.
De maneira que, em última análise, o efeito decisivo da
alo-educação radica na auto-educação.
O exímio iniciado norte-americano Emerson ouviu o esplêndido
discurso de um elegante orador. Todos aplaudiram entusiasticamente, menos
Emerson; à pergunta sobre se não havia gostado, respondeu: “Não pude ouvir o
que ele disse, porque aquilo que ele é troveja mais alto”.
O nosso dizer e fazer só exerce impacto
decisivo quando radica na plenitude do nosso verdadeiro ser – que requer
auto-educação. O nosso dizer e fazer são canais, que têm de receber conteúdo do
nosso ser.
De maneira que o impacto que o educador exerce sobre o
educando é apenas indireto, dependente do próprio educador.
Os programas educacionais não podem contar com esse ser
individual do educador, mas somente com o seu dizer e fazer social.
A educação moral, cívica e religiosa é, por conseguinte, uma
alo-educação, cujo efeito é sempre problemático, em face do livre-arbítrio do
educando. Se no educando não existe receptividade e ressonância propícia, o
melhor dos educadores não pode educar ou converter o educando.
Pergunta-se se o educador pode produzir no educando essa
receptividade e ressonância propícia. Diretamente, não.
Indiretamente, pode o educador despertar no educando
potencialidades dormentes, que melhorarão a receptividade dele. Praticamente,
toda a arte de educar consiste em descobrir e despertar no educando essas
potencialidades dormentes.
Se isto é base filosófica, então consiste ela no
conhecimento exato da natureza humana, que é fundamentalmente a mesma em todos
os seres humanos.
Mas ninguém pode conhecer a natureza humana alheia sem
conhecer a sua natureza própria; só um autoconhecimento profundo abre o caminho
para o alo-conhecimento.
A educação é, portanto, antes uma arte do que uma ciência.
A ciência joga com análises intectuais, ao passo que a arte ultrapassa
estas e atinge também a intuição cósmica. O educador-artista sabe auscultar e
vislumbrar os imponderáveis existentes nas profundezas extraconscientes do
educando.
O talento analisa.
O gênio intui.
A análise do talento é meridianamente consciente, ao passo
que a intuição é misteriosamente ultraconsciente.
Essa intuição do educador pode ser cultivada e aperfeiçoada
através de experiência e vivência, interna e externa.
Programas meramente analíticos e técnicos não atingem a
verdadeira alma da educação.
De maneira que, em qualquer hipótese, a alo-educação externa
recai sempre na auto-educação interna.
É este o problema paradoxal da educação. Não existe nenhum
caminho psicotécnico que resolva satisfatoriamente esse problema, que é antes
um problema do educador, e não do educando.
O problema educacional é uma síntese orgânica de ciência e
arte, que exige do educador plenitude de autoconhecimento e auto-realização.
Como já lembramos, existe na física o processo chamado
indução magnética, base de toda a nossa indústria atual: uma corrente elétrica
de alta voltagem produz um campo magnético sem nenhum contato direto, somente
por indução. O campo magnético assim induzido é uma espécie de aura ou alma
gerada pela vizinhança de uma alta voltagem. Também na metafísica e na arte de
educar existe uma espécie de indução, não magnética, mas espiritual. Essa
indução espiritual, porém, supõe a presença de um indutor ou educador. Somente
a plenitude do educador pode transbordar em benefício do educando. E somente
essa plenitude é que pode solucionar o problema paradoxal da educação.
Quem julga ser bom por medo de castigo ou esperança de
prêmio é um egoísta disfarçado.
O problema
paradoxal da educação
Huberto Rohden em seu primeiro
texto do livro “Educação do Homem Integral” coloca a questão principal e
paradoxal da educação, não é possível educar, um alo-educação não é possível, a
única educação verdadeira é a autoeducação.
Sendo assim,
um professor poderia apenas mostrar o caminho a um aluno, inspira-lo e mesmo
assim, apenas indiretamente, jamais diretamente, isto é uma verdade óbvia e
incontestável, basta um breve olhar sobre as dezenas de nossas escolas,
públicas ou particulares para constatar que quando um aluno não quer aprender,
ele não irá aprender e nada pode mudar isso, isso explica a enorme quantidade
de alunos indisciplinados ou desinteressados. Ele poderá até passar de ano, se
formar e até mesmo trabalhar, mas será que ele de fato aprendeu algo?
Indiretamente,
porém, argumenta Rohden, pode o Professor despertar as potencialidades latentes
do ser humano, algo parecido com o que tanto se fala em pedagogia hoje em dia
que é despertar o interesse do aluno. No entanto, para fazê-lo o professor
precisa conhecer a fundo a natureza humana, e para isso precisa ele mesmo
conhecer tal natureza, se um professor não se auto educou, se apenas reproduz
mecanicamente aquilo que lhe foi passado, ele não conseguira atingir tal
tarefa.
Por isso, faz
mais sentido dizer que educar é antes uma arte do que uma Ciência.
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